Penafiel, Porto

Rituais e Costumes

A persistência de elementos arcaicos que compõem a parte profana da procissão do Corpo de Deus em Penafiel, como a Bicha Serpe, o Estado de S. Jorge, o boi bento, o carro triunfal, a Figura da Cidade ou os Bailes, dão na atualidade uma dimensão única e profundamente identitária ao Corpus Christi penafidelense, reforçada pelas animações que ocorrem na véspera, o Carneirinho e a Cavalhada. É da Cavalhada que esta candidatura trata, enquanto ritual e costume secular que precede a celebração do Corpo de Deus em Penafiel, onde se apresentam e atuam os Bailes, danças populares que acompanham no dia seguinte a majestosa procissão do Corpus Christi, com características únicas no país. Estes Bailes constituíam uma contribuição obrigatória dos vários ofícios e grupos profissionais para a celebração do Corpo de Deus, cuja participação estava bem definida e decretada no Tombo das Festas do Corpo de Deus, documento de 1657 reformulado em 1705. que instituía as normas e regras desta celebração, em que toda a sociedade civil e religiosa participava ativamente e se fazia representar, assumindo a organização de várias componentes. Tinham os mesteres a obrigação de apresentar uma animação, em forma de dança ou baile teatrializado, que representasse a atividade artesanal da referida corporação, ou outra qualquer tarefa que lhe viesse imposta conforme deliberação exarada no respetivo Tombo das festas. Destas danças vêm já referidas no documento seiscentista a Dança da Mourisca (representada pelos alfaiates, albardeiros e vendeiros), a Dança da Retorta (apresentada pelos sapateiros e tosadores), a Dança dos Moleiros (dada pelos moleiros do Cavalúm e rio Sousa), a Dança das Espadas (pelos ferreiros e serralheiros), entre outras. Em 1705 dá-se a reforma dos capítulos da festa, documentada em novo Tombo, criando-se novas danças e obrigações para a concretização da festa solene. No entanto, por determinação régia de 1724, as danças foram banidas das procissões, não podendo mais os grupos atuar durante o cortejo religioso, integrando apenas o conjunto de figurantes passivos do desfile. Vários concelhos não cumpriram durante décadas esta postura régia, e em Penafiel apenas no séc. XIX se verificou o definitivo afastamento dos Bailes da procissão propriamente dita, passando estes a atuar de véspera, na cerimónia da Cavalhada. Ao longo da segunda metade do séc. XX a maior parte destes Bailes deixaram de se realizar, à exceção do Baile dos Ferreiros, que desde sempre se manteve ativo, tendo o Município de Penafiel conseguido recuperar entre 2008 e 2011 outros cinco Bailes. Com recurso à documentação histórica existente, desde logo os Tombos de 1657 e 1705, e o apoio de várias associações locais, recuperaram-se danças, trajes, cantares e as suas representações, devolvendo à cidade este singular património imaterial, que encontra na Cavalhada a sua máxima expressão. Destaca-se o Baile dos Ferreiros, formado por um grupo de homens que dançam uma rápida e complexa dança de espadas. Os Pedreiros executam a rábula de uma desavença profissional entre o mestre e os seus oficiais. Com o Baile dos Turcos surge um verdadeiro auto, que narra o combate entre cristão e infiéis. O Baile das Floreiras é essencialmente feminino, com mulheres dançando e respondendo ao mestre que as dirige. Já o Baile dos Pretos afasta-se da tradição das danças de ofício e representa a história de um grupo de escravos negros alforriados, que apresentam uma vistosa dança de fitas, tal como o Baile dos Pauzinhos, mais recente, que procura o divertimento, a beleza e animação da festa.

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