Sardoal, Santarém
Rituais e Costumes
No decurso da Semana Santa, as Igrejas e Capelas da Vila de Sardoal abrem as portas para exibirem os artísticos Tapetes de Flores que lhes atapetam o chão, cuidadosamente elaborados por grupos de moradores que vivem perto, e que anualmente concebem e criam tapetes à base de pétalas de flores e de verduras naturais, com desenhos alusivos às temáticas religiosas cristãs da Semana Santa e da Paixão de Cristo.
As flores utilizadas na composição dos tapetes são, na sua larga maioria, espécies autóctones e plantas da época, designadamente giestas, glicínias, lilás, rosmaninho, alecrim e bucho, cravos, camélias, malmequeres, margaças, etc. As flores, além de comporem a moldura dos tapetes, provocam agradáveis aromas.
Os diversos grupos de moradores que habitam nas proximidades das Igrejas ou Capelas ou outros organismos específicos organizam-se na gestão das diferentes partes do processo da criação dos Tapetes de Flores, com muito tempo de antecedência, seja:
1) A conceção das temáticas e dos desenhos a desenvolver (sempre com motivos religiosos cristãos) – com cerca de um mês de antecedência;
2) A recolha de flores e verduras necessárias à criação do desenho desenvolvido, essencialmente no campo, com cerca de uma semana de antecedência;
3) A redução a pequenos fragmentos (depenicar) das flores e verduras, frequentemente realizada por mulheres e crianças – nos dias que antecedem;
4) A limpeza das Igrejas e das Capelas, e ornamentação dos altares das Igrejas e Capelas;
5) A conjugação das flores e a “composição” dos desenhos já previamente estruturados – no dia anterior (quarta-feira).
Neste sentido, cada um dos grupos desenvolveu uma forma própria na produção dos tapetes, seja na estruturação como na planificação dos desenhos (quer seja através de desenho direto no chão, da colocação em areia fina, ou de base de esferovite).
Reza a lenda que a tradição dos Tapetes de Flores em Sardoal teve início aquando da primeira visita da Rainha Santa Isabel à Vila, tendo os moradores elaborado tapetes em pétalas de flores por não possuírem tapeçarias ricas para a receber.
Sendo certo que, segundo notícias publicadas na Imprensa Regional, por volta do ano de 1890, refere-se o retomar da Tradição das Cerimónias Religiosas da Semana Santa em Sardoal, sendo salientado com particular destaque as Capelas enfeitadas com flores e verdura, que sob a orientação do Cónego Anacleto da Fonseca Morais, atingiram grande brilhantismo. Esta notícia confirma a antiguidade desta Tradição.
Trata-se de uma exposição de rara beleza visual bem como olfativa – a ingenuidade dos motivos ornamentais e a harmonia das cores e disposição das luzes, e que só pode ser contemplada nesta altura e nesta terra, fruto da inspiração, anualmente renovada, dos artistas anónimos que tecem com pétalas e folhas, muitas vezes separadas uma a uma, estas tapeçarias perfumadas, que julgamos originais do Sardoal, sinais de uma cultura popular sedimentada ao longo dos séculos, sempre renovada nos motivos e nas formas, mas sempre constante na sua religiosidade e no amor à sua Terra.