Machico, Madeira

Rituais e Costumes

A tradição dos fachos é uma prática comunitária que faz parte da cultura popular das gentes da Freguesia de Machico, na ilha da Madeira. Única na Madeira, esta tradição está associada à Festa do Santíssimo Sacramento que ocorre, no último fim-de-semana de agosto. No sábado, vésperas daquela Festa, os fachos iluminam as vertentes do Vale de Machico, num espetáculo cheio de emotividade, humanismo e de um profundo sentimento de religiosidade. As encostas do Vale de Machico são como que invadidas pelas gentes num labor incansável. Esta tradição, cujos primórdios se perdem no tempo, subsiste nos dias de hoje mantendo essa identidade tão nossa e que se repete anualmente num ato marcado de forma discreta pela competição sadia na comunidade local e pela preservação da memória ancestral.

Os fachos materializam ícones religiosos como a custódia, as cruzes, o cálice, os peixes, os barcos (caravelas e a traineira) e outros objetos mutáveis no tempo, associados aos hábitos e costumes da antiga Vila de Machico. No passado, estas formas figurativas eram (re)construídas com varas de madeira. Atualmente, esta prática ritual foi substituída por estruturas metálicas que permanecem inalteráveis ano após ano. Esta mudança favorece o trabalho voluntário, havendo apenas que criar um perímetro de segurança em torno do facho, por forma, a evitar possíveis focos de incêndio em mato.

Os fachos são feitos com recurso a materiais como: arame, pregos, óleo queimado e bolas de algodão (desperdício). Estes dois últimos elementos são adquiridos pela paróquia junto de empresas regionais e distribuídos aos grupos, segundo as necessidades dos fachos de cada sítio. A Casa do Povo, apoia esta tradição religiosa e etnográfica com a promoção de um convívio para todos os indivíduos envolvidos na dinamização dos fachos. O espetáculo do fogo e imagem produzido pelos fachos, resulta da combinação das bolas de algodão que são embebidas no óleo queimado e presas com arame à estrutura previamente preparada. Estas bolas são colocadas habilidosamente de forma equidistante e simétrica; uma perícia que oferece um belíssimo espetáculo.

A aproximação da hora de acender os fachos, congrega milhares de pessoas, locais e forasteiros, que nesta noite invadem os espaços públicos do centro e periferia da Cidade de Machico para assistirem a uma tradição singular na região.
Soa o búzio, junto aos fachos, sendo estes acesos pelas 21h, queimam durante cerca de trinta minutos, sensivelmente, logo vão-se apagando espontaneamente como que morrendo, para ciclicamente voltarem a nascer.

No passado, os fachos eram “… constituídos por montinhos de pinhas crepitantes, em que as raparigas andaram em longa faina pela serra para as poderem reunir.” As capas da cebola pelas encostas, transluzia na noite da véspera, contando uma torcida de estopa embebida na minguada concha de azeite. E o vale tremia todo em cintilações e espasmos de luz, num aspeto deslumbrante.”

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