Barcelos, Braga
Lendas e Mitos
As lendas e mitos são muitas vezes responsáveis pela construção de uma identidade cultural que não se escreve mas que se transmite via oral e, como tal, está em permanente evolução. A lenda do galo é, portanto, um traço etnocultural associado a Barcelos e constitui sabedoria com a qual se construiu a identidade local.
Em Portugal o Caminho de Santiago é um eixo central de leitura e conhecimento do território e da identidade das comunidades nos mais diversos registos, encontrando-se lendas, estórias, igrejas, conventos, mosteiros, fontes, cruzeiros e alminhas e a autenticidade dos locais que se habituaram a conviver com os peregrinos.
A lenda do galo de Barcelos é uma dessas tradições orais que conseguiu ir muito longe, uma vez que se materializou e se associou a uma bela peça de figurado tradicional de Barcelos – O Galo – que se configura como “….o exemplo típico da construção de um mito que perdura ainda hoje através de uma figura do artesanato popular que corre mundo e simboliza Portugal” (PEREIRA, 2005).
Esta lenda está associada ao cruzeiro medieval que se encontra no Paço dos Condes de Barcelos e conta-nos que os habitantes do burgo andavam alarmados com um crime e, mais ainda, com o facto de não se ter descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou que o galego se dirigisse a Santiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa, e que fosse ferveroso devoto de Santiago, S.Paulo e Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca. Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado que, nesse momento, se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamando: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”. Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo.
O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Já ninguém duvidou das afirmações de inocência do condenado. O juiz correu à forca e viu, com espanto, o pobre homem de corda ao pescoço. Todavia, o nó lasso impedia o estrangulamento. Imediatamente solto foi mandado em paz. Passados alguns anos, voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor a Santiago e à Virgem.
Por se tratar de uma tradição oral esta pode ser matéria algo subjetiva na forma como é relatada, contudo remete-nos sempre para um testemunho que sustenta a história, a identidade, a herança e a memória de um território e a ligação a esta Peregrinação medieval.