Peniche, Leiria

Artesanato

A Renda de Bilros de Peniche é amplamente considerada o símbolo maior do artesanato penichense, um património cultural de referência incontornável deste concelho oestino.
A confeção da Renda de Bilros de Peniche é um saber-fazer com cerca de quatrocentos anos de história, que, ainda hoje, tem forte implantação e relevância identitária.
A difusão por via marítima aliada à necessidade de um sustento regular que o mar não fornecia, poderá justificar a implantação desta manifestação essencialmente em territórios costeiros – daí o dito popular “onde há redes há rendas”.
As mulheres a aprendiam a rendilhar desde tenra idade, num saber transmitido de geração para geração, por via oral, através de métodos informais e familiares de aprendizagem, do ensino particular e do ensino oficial.
A Renda de Bilros é uma arte têxtil executada através do entrecruzar de vários fios enrolados em bilros, que são manejados aos pares pela rendilheira. Trabalha-se sobre uma almofada cilíndrica, seguindo o desenho riscado num cartão previamente perfurado, o pique.
Pelo próprio processo de urdidura usado em Peniche, com as palmas das mãos viradas para cima, terá a renda desta localidade maior consistência ao permitir um maior estiramento das linhas utilizadas.
Trata-se de um saber-fazer com grande variedade de pontos e técnicas, sendo os motivos mais comuns na sua execução os geométricos, os marinhos e os florais.
A conceção da renda inicia-se no desenho que, após concebido, é estilizado, copiado para papel quadriculado e adaptado aos pontos desejados (debuxo). O pique é o resultado da passagem do desenho, picado e riscado, sobre um cartão de cor açafrão. O pique é fixado na almofada com a ajuda de alfinetes e a Renda começa a ser tecida através do cruzamento de fios, enrolados em bilros. No fim, quando aplicável, dá-se a cerzidura, com pontos de agulha, sobrepondo as duas partes da renda, de modo a que não se note a união. À medida que o trabalho progride, os pontos realizados são seguros (armados) por alfinetes de acordo com o pique que se está a produzir. O número de bilros varia conforme a complexidade do desenho, podendo ultrapassar as duas centenas.
Desde os primórdios da produção da Renda de Bilros que se foram aplicando criativamente elementos de forma não tradicional, inovando e produzindo novas criações, algo que hoje se continua a incentivar.
Iniciativas promovidas pelo Município de Peniche como, a Mostra Internacional de Renda de Bilros, os Ateliês e Serviços Educativos para público infanto-juvenil e adulto, a Certificação do produto, a Escola Municipal de Renda de Bilros e o Museu da Renda de Bilros de Peniche, permitem valorizar a mulher rendilheira e difundir o estudo, conservação, valorização e divulgação deste importante património, nas suas vertentes material e imaterial.
A Renda de Bilros é, indubitavelmente, parte da herança cultural das gentes de Peniche – um Património Vivo, testemunho da identidade, memórias e tradições seculares deste território.

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