Arraiolos, Évora

Artesanato

O Tapete de Arraiolos é uma das mais relevantes e conhecidas expressões das artes decorativas portuguesas, tendo, na sua essência, um cariz imaterial que se revela no seu processo de confeção artesanal, e, simultaneamente, uma matriz artística, resultante da conceção das composições e revelada, por fim, no tapete, obra de arte que pela sua comprovada antiguidade e continuidade ao longo dos séculos se transformou num dos baluartes da cultura popular portuguesa, sendo uma imagem de marca do Alentejo e a grande janela para o mundo da terra onde teve origem esta tradição, a vila de Arraiolos.
O Tapete de Arraiolos é um tipo de produção têxtil que se caracteriza por um processo de confeção constituído pela conceção do desenho, pelo corte e marcação da tela para transposição da composição decorativa, pelas diferentes fases e procedimentos específicos da sua bordadura com fios de lã por meio da técnica do ponto cruzado oblíquo (armação, matiz e enchimento) e, no final, pela confeção da franja no tradicional banco de franja de Arraiolos.
Menos conhecido, mas tão antigo como o método de confeção dos tapetes convencionais, é um outro tipo de confeção mais artístico e minucioso dos Tapetes de Arraiolos, muito utilizado no século XVII e recentemente retomado em Arraiolos, os tapetes em ponto pé-de-flor. Sobre uma tela de linho ou estopa de linho, arma-se o desenho do tapete em ponto pé-de-flor, sendo depois matizado e realizado o enchimento dos fundos do campo e da barra do desenho com o tradicional ponto de Arraiolos, tecnicamente designado por ponto cruzado oblíquo.
Todo o processo de confeção do Tapete de Arraiolos obedece a um esquema pré-decorativo com a definição do centro, campo e barras, em regra simétricos nos quatro quartos do desenho, os quais pela sua junção se constituem como o desenho do tapete.
Sendo uma tradição multissecular, a sua decoração manifestou naturais alterações ao longo dos tempos, indo de encontro aos gostos vigentes em cada época. A sua decoração no século XVII e na primeira metade do século XVIII caracterizava-se pela inspiração nos desenhos dos tapetes turcos e, principalmente, nas composições dos tapetes persas existentes em Portugal desde o dealbar da Modernidade, bem como em colchas indo-portuguesas e em padrões de azulejaria da época.
Porém, a partir de meados do século XVIII tem início um gradual afastamento do orientalismo, tendo-se gerado composições mais populares e menos evocativas de outras expressões artísticas.
Na atualidade há um misto de reminiscências decorativas que se manifestam através de desenhos e motivos mais antigos, mas também uma natural tendência de inovação e surgimento de novos padrões de decoração consentâneos com os novos tempos e tendências artísticas, permanecendo o seu processo de confeção em Arraiolos nos carris da tradição e assente na transmissão dos saberes que, de geração em geração, trouxeram esta expressão imaterial tão intrinsecamente portuguesa até aos nossos dias.

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