Odemira, Beja
Artefactos
A Música Tradicional de raiz popular assume um papel importante no património cultural do Baixo Alentejo, particularmente no concelho de Odemira, ganhando forte expressão através da viola campaniça e do cante alentejano, com destaque para o cante de improviso e para poesia popular. Estas práticas abrangem toadas vocais e instrumentais lúdicas e de trabalho.
Era comum ouvir-se o cante de improviso nas feiras, nos mercados e nas tabernas, por vezes acompanhado da popular viola campaniça que se encontra apenas no Baixo Alentejo, sendo poucos os tocadores e os artesãos que a constroem. Odemira orgulha-se de contar com cantadores, tocadores e construtores desse ofício ativos como o Mestre Daniel Luz, que domina a arte de construir violas campaniças com as próprias mãos.
Estas tradições têm sido revitalizadas nos últimos anos graças ao esforço de associações e autarquias e à vontade dos cantadores e tocadores. Em São Martinho das Amoreiras (Odemira) está em atividade o Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso, num consórcio entre o Município, freguesia de São Martinho das Amoreiras, ADA e Casa do Povo sob coordenação do músico Pedro Mestre, que se tem dedicado à promoção da música alentejana e também ele detentor do conhecimento e da técnica construtiva da campaniça. Neste Centro já foram construídas várias violas sob orientação do mestre Daniel Luz, que viu ser inaugurada em 2019 uma oficina de construção de violas campaniças na sua terra e com o seu nome, numa iniciativa da Junta de Freguesia de São Teotónio, na qual já se ensinam novos construtores.
A viola campaniça é “a maior das violas portuguesas e possui 5 ordens de cordas, tocada de dedilhado apenas com o polegar, sendo que as cordas mais graves são geralmente tocadas soltas. Adaptada à exposição da melodia das modas e cantigas alentejanas pode possuir dois tipos de afinação.
Como particularidade, apesar de ser um instrumento de dez cordas, pode possuir doze afinadores o que indica que o instrumento, que se crê que tenha evoluído a partir da “Vihuela de Mano” medieval, foi outrora dotado de uma sexta ordem de cordas duplas, mas que estas terão caído em desuso”.
O cravelhal da viola campaniça é de 12 cravelhas mas normalmente o tocador utiliza 10 cordas e muitas vezes 8. As cravelhas do topo, que não têm cordas, são suplentes para o caso de alguma se partir.
Instrumento que dá som ao Cante Alentejano esteve muito perto de desaparecer e houve tempos em que encontrar uma viola campaniça era uma aventura. Daniel Luz viveu essa experiência e depois ajudou, guitarra a guitarra, a repovoar o Alentejo e agora a povoar o Mundo com este tradicional cordofone alentejano que tem caraterísticas únicas e é diferente das demais violas existentes no país: EUA, Grécia, Israel, Holanda e Bélgica são alguns dos países que já têm guitarras campaniças feitas pelas mãos do mestre Daniel e há também artistas de renome que apreciam o trabalho do artesão alentejano como o Tim dos Xutos e Pontapés, Adiafa e os Diabo na Cruz entre tantos. Por ano faz mais de 20 instrumentos, todos eles por processos manuais e de forma tradicional.
Daniel Inácio da Luz nasceu em 1939. Começou como aprendiz de carpinteiro aos 15 anos, iniciando a sua paixão pela madeira e pelos instrumentos de corda por essa altura. O primeiro instrumento que construiu foi um bandolim. Continuou a trabalhar a madeira, aperfeiçoando e estudando a arte da construção de cordofones, melhorando a cada dia e a cada instrumento.
Este é um trabalho que não pretendemos deixar que o tempo reclame novamente e por isso entendemos que a participação nas 7 Maravilhas da Cultura Popular contribuirá para a sua promoção e valorização, despertando através novas consciências e interesse pela cultura popular.