Calheta, Madeira
Músicas e Danças
Tema: Bailinho da Madeira
A candidatura da letra do Bailinho da Madeira às 7 maravilhas de Portugal personifica, em termos musicais, a Região Autónoma da Madeira. Nos quatro cantos do mundo, o Bailinho da Madeira é conhecido devido à vasta comunidade emigrante, bem como ao número peculiar de turistas que visitam, anualmente, a Região. Desde os hotéis, às ruas, do sul ao norte e em todos os cantos da Ilha, é possível ouvir o Bailinho da Madeira, sendo este considerado Património Musical e Imaterial.
O que muitos não sabem é que a génese da música e letra do Bailinho da Madeira foi criada no concelho da Calheta. O seu autor foi o poeta popular, João Gomes de Sousa, popularmente mais conhecido como o “Feiticeiro da Calheta”.O “Feiticeiro da Calheta” foi uma figura icónica, no nosso concelho, sendo acima de tudo um sábio popular que, pelos seus dizeres e cantares, se tornou uma referência para a comunidade. Através da poesia popular criada muitas vezes pelo método repentista, cantada em desafio ou despique, tecia apreciações analíticas ou denunciadoras consideradas certeiras sobre temas antropológicos, de moral social e individual, acontecimentos históricos, comportamentos, problemas sociopolíticos e religiosos, até mesmo sobre temas teológicos e culturais diversos.
Em 1938, o Feiticeiro da Calheta vai à cidade do Funchal com o Rancho Folclórico do Arco da Calheta para participar na primeira Festa das Vindimas, sendo uma festa popular, onde houve um concurso de Ranchos Folclóricos. É neste evento que toca e canta, pela primeira vez, o Bailinho da Madeira e ganha o primeiro prémio. Desde então, o tradicional Bailinho da Madeira move massas, anima arraiais de forma sublime e está presente nos acontecimentos mais importantes da época ao nível local, regional, nacional e internacional.
Origem do Bailinho da Madeira
De realçar que a descoberta da literatura de cordel escrita, do poeta popular Feiticeiro da Calheta só ocorre após 1938, por ocasião da primeira Festa das Vindimas, realizada em favor da caridade da Escola de Artes e Ofícios, pelo responsável Padre Laurindo Leal Pestana e a propaganda do vinho e da uva. Nos dias 18 e 19 de setembro de 1938, o poeta popular, Feiticeiro da Calheta vai com o rancho folclórico do Arco da Calheta para participar na primeira grande Festa das Vindimas.
Foram no barco Gavião, que partiu do Porto Moniz, passou pelo Paul do Mar e apanhou o rancho no porto da Fajã do Mar, freguesia do Arco da Calheta, zona oeste da Ilha da Madeira. Levaram consigo produtos agrícolas, vinho, animação e muito boa disposição. Houve um grande desfile pelas ruas do Funchal e também um concurso, no qual participaram muitos ranchos folclóricos vindos de todos os cantos da Ilha da Madeira. O Rancho do Arco da Calheta reconhecido pelo seu rigor, indumentária e animação, ficou em primeiro lugar, com o prémio de quinhentos escudos (500$00).
O Diário da Madeira relatou o evento e a 21 de setembro de 1938, após a grande festa das Vindimas, publica os versos cantados pelo Feiticeiro na exibição do Arco da Calheta, que cantou uns versos (em Xaramba) sobre a recente visita de sua Ex.a o Presidente da República à Madeira, António Óscar Fragoso Carmona, a 13 de julho de 1938. É no contexto do desfile dos ranchos e bandas pelas diversas ruas do Funchal, como consta no programa das festas, que o Feiticeiro da Calheta ensaiava os versos de saudação à tribuna à frente do Governador da Madeira e restantes representantes e organizadores da festa, a música e as quadras que vieram a dar origem ao Bailinho da Madeira.
Foi a partir de 1938, face aos altos elogios que foram tecidos por diversas entidades no Funchal, que o Feiticeiro da Calheta ganhou maior entusiasmo e começou a publicar os folhetos e engendrar mais versos com diversas temáticas. Em 1949, Max e a sua banda, em Lisboa, na produtora Valentim de Carvalho, faz a gravação do Bailinho da Madeira, mas com um arranjo musical. Rapidamente a música se espalhou através das rádios e chegou aos ouvidos de muitos e, de um modo especial, do Feiticeiro da Calheta. Sentindo-se defraudado, o Feiticeiro da Calheta vai ao Funchal de barco esperar o regresso de Max à Madeira para confrontá-lo por cantar uma letra da sua autoria e sem autorização. No intuito de remediar a situação, Max dá ao Feiticeiro da Calheta a quantia módica de vinte escudos (20$00).
O Feiticeiro da Calheta conviveu e privou com Max em diferentes ocasiões. Eram amigos, encontraram-se e animaram vários arraiais, um pouco por toda a Ilha da Madeira, nomeadamente o Arraial do Monte, o Arraial da Ponta Delgada e o Arraial do Loreto. Em 1964 cantou com Max no Hospital da Calheta. O Feiticeiro da Calheta, João Gomes de Sousa, faleceu a 8 de julho de 1974, na sua residência, no Lombo do Brasil, no entanto permanece nas lembranças do povo da Calheta. Hoje, artistas regionais, nacionais e internacionais tocam e cantam o Bailinho da Madeira, bem como os grupos de folclore pelo mundo fora, onde se encontra através desta canção popular a alma regional, pois este é o verdadeiro hino do povo madeirense.
Em suma, a importância do Bailinho da Madeira ser candidata às 7 Maravilhas de Portugal simboliza, em termos musicais, uma região, já que, quando o ouvimos, interligamo-nos, automaticamente, à Madeira. Deste modo, pretende-se perpetuar as caraterísticas específicas desta canção popular designada Bailinho da Madeira, promovendo o património cultural imaterial da Região Autónoma da Madeira.
O Bailinho da Madeira tem ganho, ao longo do tempo, relevância histórica, justificando a sua transmissibilidade e a sua fruição através das gerações. Neste aspeto, entra em cena a categoria de património, que está fortemente relacionada a estes suportes materiais ou imateriais, sendo de indubitável relevância a classificação da música popular Bailinho da Madeira, criada no Concelho da Calheta da Região Autónoma da Madeira como uma das 7 Maravilhas de Portugal.