Cantanhede, Coimbra

Artesanato

A envolvente geográfica da Pedra de Ançã compreende uma mancha cartografada de rochas calcárias superior existente entre as localidades de Ançã, Portunhos, Pena e Outil.
Apesar da relativa extensão geográfica desta área, a maior parte das primitivas pedreiras e as utilizadas para fins mais “artísticos” estariam localizadas em torno do vale da ribeira de Ançã e seus tributários
Pedra de Ançã é o material de construção por excelência dos monumentos portugueses. Com ela esculpiram-se joias do que hoje é feito grande parte do nosso património da humanidade.
“Pedra de Ançã”. Este termo designa um tipo de calcário muito puro e macio, de tom esbranquiçado, explorado na região de Ançã, em unidades jurássicas do anticlinal de Cantanhede que tanto deleitou arquitectos e escultores pela facilidade em se moldar ao sabor do cinzel, permitindo a feitura quase miraculosa de obras com grande esmero e detalhe.
A abundância e qualidade da Pedra de Ançã atraiu a Coimbra, escola de saberes, grandes escultores que ali produziram obras notáveis de construção, estatuária religiosa e tumular portuguesa. Entre estes, contam-se: Mestre Pero que esculpiu o túmulo da Rainha Santa Isabel, para além de várias Nossas Senhoras do Ó, entre as quais as existentes em Santiago de Compostela e a Corunha; Gil Eanes, autor do portal do Mosteiro da Batalha; João Afonso escultor do túmulo de Afonso de Góis na Igreja Matriz de Góis; Diogo Pires, o Moço, e Diogo Pires, o Velho, autores de estatuária diversa espalhada pelo país; Nicolau de Chanterene, autor dos túmulos de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I de Portugal e do portal da Igreja de Santa Cruz de Coimbra; João de Ruão, autor da Porta Especiosa e do altar da Capela do Santíssimo Sacramento da Sé Velha de Coimbra e do púlpito da Igreja de Santa Cruz daquela cidade.
Para além destas, muitas outras obras estão espalhadas pela região de Coimbra. Neste espaço singular e multifacetado o elemento histórico-decorativo está omnipresente através de registos de notável perfeição artística. Nestes locais conservam-se alguns dos principais legados escultóricos de Portugal, testemunhos marcantes de mestres canteiros e de oficinas artísticas que escolheram a “Pedra de Ançã”, para difundirem a sua obra e o seu estilo, com grande qualidade estética e de execução.
Mas não foi apenas esta região a ser beneficiada. Estes tesouros estão espalhados por todos os concelhos deste país. A Capela da Santíssima Trindade na Quinta da Regaleira em Sintra (parte exterior da capela), Igreja da Misericórdia em Aveiro (parte escultória exterior), Sé de Viseu (retábulo e letreiros), Mosteiro de S.ta Maria de Arouca (estátuária), Palácio Nacional de Queluz (balaustradas), Estação de São Bento (escultura), bem como em brasões, monumentos tumulares, retábulos e estatuária de inúmeras igrejas por todo o país, encontrando-se ainda representada em alguns monumentos no estrangeiro.
Esta arte evidenciou a importância da “Pedra de Ançã” na economia regional e nacional e na arte portuguesas nos primeiros séculos da nacionalidade
Apesar de alguma exploração residual para esculturas, após o século XIX, a exploração desta pedra tem servido essencialmente para outro tipo de arte, adornando prédios e edifícios com a nobre cantaria, colunas, calçada e outros elementos decorativos.
A indústria e comércio da arte que permitia a Pedra de Ançã fez com que a região se tivesse expandido e enriquecido, o que pode justificar o crescimento demográfico do concelho de Cantanhede até 1960, seguido de um decréscimo até aos dias de hoje.

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