Marinha Grande, Leiria
Rituais e Costumes
A Praia da Vieira é amplamente reconhecida pela tradição da Arte Xávega, prática determinante para a afirmação da identidade da sua comunidade piscatória e dos usos e costumes das gentes da Praia da Vieira.Tratando-se de uma preciosa herança deixada pelos seus antepassados, a comunidade da Praia de Vieira tem lutado e contribuído para que a mesma não se extinga, e personifica com orgulho este vasto património vivo.A xávega é a prática de pesca artesanal de arrasto para terra que se realiza com rede de cerco. Na Praia da Vieira, grandes embarcações de fundo chato e de proa alta em forma de meia-lua entram mar adentro, enfrentando as ondas, deixando o cabo de um dos extremos da rede preso em terra. Depois de deitada a rede ao mar, a umas centenas de metros da costa, os pescadores regressam para terra com o cabo que segura o outro extremo da rede.Com os dois cabos em terra, a rede é puxada atualmente por tratores, até à praia, onde é recolhido o peixe.Porém, o conjunto de práticas que caracterizam a arte xávega na Praia da Vieira não de esgota apenas na simples atividade piscatória, mas num conjunto de práticas intrinsecamente associadas, que foram incorporadas pela comunidade, e fazem hoje parte do universo da tradição da Arte Xávega da Praia da Vieira.Desde logo a prática que originou a importante cultura Avieira, perpetuada na obra do escritor neorrealista Alves Redol, ou na dos realizadores e documentaristas António Campos e Ricardo Costa. Resulta do movimento migratório protagonizado pelas famílias de pescadores da Praia Vieira que, nos meses de inverno, perante o mar revolto e as más condições para a pesca, migravam para a borda-d’água, no rio Tejo, onde se dedicavam à prática da pesca no rio, trocando as casas de madeira por pequenos barcos errando pelo rio, nos quais trabalhavam, dormiam e conviviam, levando consigo a identidade, a cultura popular, e os usos e costumes da Praia da Vieira.Outra dimensão que caracteriza esta tradição é o papel que as mulheres assumiram, em condições de vida difíceis. Enquanto os homens se dedicavam à prática das artes da pesca, as mulheres assumiram um papel estruturante a nível social e familiar, na gestão do orçamento familiar e no cuidado dos mais novos e velhos. Além da administração do lar, as mulheres asseguravam, entre outros, a aquisição do peixe para revenda, o processamento do peixe e a segunda venda, percorrendo dezenas de quilómetros, para levarem o peixe fresco ou seco a outras povoações.Ainda hoje se pratica a venda do peixe fresquíssimo acabado de apanhar do mar, e a seca do carapau aberto, disperso em tabuleiros de rede, de que resulta um carapau aberto levemente dourado ao sol, pouco seco, que encerra no interior os sucos frescos e deliciosos com sabor a peixe e a mar.Há muito que a pesca artesanal da arte da xávega, assim como a secagem e venda do peixe e do carapau seco fazem parte do ADN dos Vieirenses da praia, manifestando-se ainda hoje nas práticas do dia-a-dia daquela comunidade.