Coruche, Santarém
Artesanato
No vale do Sorraia desde sempre abundaram as matérias-primas tradicionalmente associadas à milenar arte da cestaria.
Dos ramos novos dos salgueiros (plantas do género Salix, na família Salicaceae) que ladeiam o rio e as ribeiras suas afluentes obtém-se o vime que, depois de descascados e secos, são habilmente trabalhados pelas mãos experientes dos artesãos, herdeiros das técnicas ancestrais necessárias à sua cuidada preparação e ao posterior manuseamento para dar forma às peças.
Nas zonas húmidas e alagadas da lezíria e dos vales das charnecas circundantes encontramos também em abundância os juncos (Juncus L., pertencente à família das Juncaceae) utilizados para tecer cestos, esteiras e assentos de cadeiras e bancos. A sua produção não se limita ao restrito mercado regional uma vez que qualidade dos juncos locais é largamente reconhecida entre a generalidade dos artesãos e regista por isso mesmo uma enorme procura a nível nacional.
A cestaria poderá ser definida como a técnica de fabricação de cestos ou num sentido mais lato como um conjunto de objetos ou utensílios, obtidos através de fibras de origem vegetal. Envolve pois também a fabricação de esteiras assim como objetos de revestimento ou cobertura.
As técnicas de produção de cestos poderão ser identificadas por dois tipos principais: o tipo entrelaçado e o tipo espiral.
A exemplo das outras atividades hoje identificadas como artesanato tradicional, a cestaria começa como resposta às necessidades do quotidiano das comunidades, produzindo cestas para recolher, armazenar ou transportar produtos e pequenos objetos. As peças são criadas segundo a sua funcionalidade e variam não só no tamanho e na forma, mas também no que respeita às próprias técnicas de execução.
Em muitas circunstâncias esta atividade surgia também como um importante complemento para a economia familiar, compensando muitas vezes a falta de rendimentos entre trabalhos sazonais.
Em Coruche são comuns as raposas, pequenas cestas com padrões coloridos, utilizadas sobretudo pelos ranchos de trabalhadores rurais para o transporte dos alimentos e pertences pessoais nas longas caminhadas para o campo.
Os cestos e as cestas tinham várias utilizações, relacionadas sobretudo com as atividades agrícolas e domésticas próprias das comunidades e do território marcadamente rurais.
Entre os parcos tarecos das pequenas casas rurais encontramos também as cadeiras e os bancos – ou mochos – com os assentos cuidadosamente empalhados em junco.
Com a perda irreversível da condição utilitária para a grande maioria dos objetos, a arte da cestaria vai-se reinventando a cada dia que passa, enveredando sobretudo pelo registo decorativo e procurando os emergentes mercados turísticos.