Setúbal, Setúbal

Procissões e Romarias

Não se deixem os incautos enganar pelo nome – a Festa de N Sra do Rosário de Tróia é tão setubalense como as sardinhas assadas. Organizada pela paróquia de S. Sebastião e pelos pescadores de Setúbal festeja-se em Agosto sem data certa, que as marés do Sado “são de humores”. São uma mescla particular de fé e profano e um espetáculo visual deslumbrante que revela a identidade cultural e religiosa dos marítimos de Setúbal. Para entender a Festa de Tróia, há que compreender a importância das relações das famílias entre si e a importância do sentido de comunidade que as liga. Hoje em dia as gerações mais novas estão mais afastadas da pesca enquanto profissão, mas continuam a frequentar a festa que foi e é fundamental na transmissão de memórias, valores, sentimentos e devoção. Existe um número elevado de crianças e jovens na festa e os mais velhos acreditam que estes a vão continuar – é algo que está no sangue, não se explica. Existe em todos o sentimento de que a festa não deveria acabar nunca. Os festejos iniciam-se com 3 noites de orações em honra da Santa e dos marítimos que já pereceram na Igreja de S. Sebastião. No sábado há missa solene. Segue-se procissão pela cidade com os andores majestosamente ornamentados com plantas e flores. Durante o percurso é habitual haver trocas entre quem carrega os andores para evitar o cansaço e permitir que se paguem promessas. No Cais das Fontaínhas os barcos recebem andores e festeiros. Com a Santa na proa de um dos barcos soam as buzinas e num frenesim de alegria se faz a partida para a Caldeira, devagar pelo rio fora. Chegados à Caldeira de Tróia ouvem-se foguetes. Os barcos são saudados pela imensidão de campistas já instalados. Desembarcam Santos e festeiros que seguem para a Capela de Nossa Senhora onde decorre nova missa. Depois da descontração do jantar recria-se um ritual antigo – a procissão das velas pelo areal. Recolhida a Santa é hora do baile. O domingo começa com missa campal e procissão pelo areal acompanhada de foguetes e buzinadelas dos barcos. As imagens voltam à capela e depois de almoço brinca-se no areal aos jogos de sempre – corda, caça ao pato, corridas de sacos e pau ensebado. Renova-se o corpo com um banho nas águas do mar. Ao final da tarde os membros da Comissão avaliam os barcos engalanados com bandeiras, bonecos, altares em miniatura. Depois do jantar há baile e o tão esperado fogo de artifício. De manhã faz-se missa por alma dos marítimos falecidos. Após o almoço instala-se a nostalgia – está a terminar mais uma festa. Levanta-se o acampamento, premeia-se o melhor barco engalanado e ao final do dia, quando a maré permite, trazem-se de volta as imagens da capela e zarpam os barcos. O Círio de regresso é ainda mais majestoso – passa pelo Outão onde o padre abençoa os doentes, pela N. Sra. do Cais e termina na doca do Comércio, sempre acompanhado em terra por muita gente. A Santa regressa à Caldeira, os andores são desmanchados, as flores distribuídas. Acabou a festa, acabou o Verão.

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