Seia, Guarda

Rituais e Costumes

A Festa da Transumância e dos Pastores realiza-se anualmente em Seia de forma ininterrupta desde 2013.

Nesse ano, o Município de Seia, a Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de Montanha (ADIRAM) e os pastores, concertaram vontades com o objetivo de preservar, valorizar e divulgar o modo de vida dos pastores e a tradição ancestral associada à deslocação sazonal de rebanhos na Serra da Estrela. Assim, a subida dos rebanhos que, no passado, era feita em exclusivo pelos pastores e seus rebanhos, hoje, passou a realizar-se com o acompanhamento de turistas, visitantes e residentes.

Não se trata de uma recriação, mas sim, de uma concertação de vontades, em que a prática solitária de outrora, dá lugar à partilha de experiências, entre pastores e todos os que se propõem a vivenciar o pastoreio por um dia. Esta tradição ancestral inicia-se com um ritual de fé, no qual, os pastores oriundos de várias aldeias do concelho de Seia, acompanhados dos rebanhos (cabras e ovelhas bordaleiras), devidamente ornamentados com os maiores e melhores chocalhos e cabeçadas feitas de lã de ovelha, desfilam à vez, à volta da capela de São João Batista, na Folgosa da Madalena em busca de bênção para mais uma transumância.

A subida às pastagens de verão realiza-se passados 8 a 15 dias desse ritual. Num percurso de aproximadamente 11 km, atravessamos a zona histórica da cidade de Seia, em direção a caminhos que, há séculos conduzem pastores e rebanhos ao cimo da montanha.

A meio da manhã, depois de arvoredos densos, campos agrícolas e do chilrear dos pássaros, chegamos à aldeia da Póvoa Velha, onde é servida a merenda. A mesa repleta de iguarias autóctones, que ainda hoje fazem parte dos hábitos das gentes do meio rural senense, aguça-nos o paladar. Ao meio dia irrompemos pela ermida da Senhora do Espinheiro, local onde se faz a segunda paragem, o almoço é servido e há lugar à degustação de pratos inspirados nas tradições pastoris, completando-se assim a experiência gastronómica de sabores de montanha.

E porque a subida dos rebanhos se realiza no início do verão, este é o período, não só, para descanso dos pastores e acompanhantes, mas também, e sobretudo para o descanso dos animais. Não há hora de saída, e assim tem que ser, porque o dia a dia do pastor tem que seguir o ritmo dos seus rebanhos. Com o fresco da tarde, os animais agitam-se e os pastores percebem que chegou a hora de partir em direção ao Sabugueiro, a aldeia mais alta de Portugal continental, também conhecida pela aldeia dos pastores, é incontornável nos caminhos da transumância. Daqui, alguns dos rebanhos seguem para as pastagens de altitude, onde vão pernoitar e passar os meses seguintes, até ao São Miguel.

Os pastores dizem que os seus rebanhos comem pastagens verdejantes, bebem água pura e renovam o sangue, numa clara alusão ao início de um novo ciclo, que se refletirá na fecundidade e na qualidade do leite dos seus rebanhos, que é um dos segredos da excelência do queijo Serra da Estrela. A jornada termina para os acompanhantes, o chocalhar de sorrisos transborda, é hora de regressar a casa com a certeza de que, por um dia, experienciámos a vivência de um pastor com o seu rebanho. O deleite de tão apaziguante experiência, que extravasa os cinco sentidos, de contemplação da tradição, em pleno respeito pela natureza, onde o tempo…tem todo o tempo do mundo. Experiencie também…

Leave a Reply