Bragança, Miranda do Douro
Artefactos
A gaita-de-foles mirandesa é um aerofone tradicional que se encontra, maioritariamente, na região do nordeste transmontano, com incidência no planalto mirandês – Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso, mas também em Bragança. É um dos símbolos do património cultural das Terras de Trás-os-Montes e um dos mais raros e arcaicos exemplares deste tipo de aerofone a nível europeu.
Por estar disseminada por toda a região, especialmente nos concelhos acima referidos, é também designada de gaita-de-foles transmontana. Tradicionalmente acompanhada de caixa e bombo, encontra-se umbilicalmente ligada às danças dos Pauliteiros de Miranda, nas manifestações dos caretos e mascarados, embora o seu uso se verifique noutros momentos festivos de índole pagã ou religiosa.
Na segunda metade do séc. XX tinha, praticamente, desaparecido. Com um número reduzido de intérpretes, menor ainda era o número de construtores deste instrumento com origem em processos tradicionais. Outro dos entraves à sua preservação era também um reduzido número de gaiteiros em processo de aprendizagem.
Este instrumento de origem ancestral foi alvo de um longo processo de padronização, conduzido por Galandum Galundaina – Associação Cultural, sob o apoio da Direção Geral das Artes, contribuindo decisivamente para a sua preservação e crescimento. Esse momento marcante culminou com a apresentação pública do projeto em Miranda do Douro no ano de 2007. O processo de padronização permitiu que, pela primeira vez, na extensa história do instrumento, fosse possível ouvir várias gaitas tocando em simultâneo abrindo de forma decisiva as portas do ensino deste aerofone.
Este processo de padronização, aliado a processos mais avançados na construção do instrumento levou a um crescente interesse pelo instrumento, potenciado pelo número de construtores que seguiram o modelo padronizado, levando a um acesso mais rápido a um instrumento, agora mais estável em aspetos tonais.
Assim, desde 2007, o número de gaiteiros aumentou de forma exponencial, afastando o clima de extinção que sempre pairou sobre a gaita mirandesa. De igual forma, a gaita-de-foles mirandesa, foi sendo gradualmente introduzida em grande parte das escolas de música tradicional que se encontram distribuídas pelo território e, em reduzido número, além-fronteiras. Hoje é um instrumento indissociável da paisagem sonora da generalidade das escolas de música tradicional.
Atualmente, a utilização do instrumento não se resume apenas à tríade gaita, caixa e bombo havendo, frequentemente, diversas formações com 2, 3, 10 ou mais gaitas a tocar em uníssono. O seu uso ultrapassou os domínios do tradicional podendo encontrar-se ensembles constituídos por gaita mirandesa e outros instrumentos, inclusive de base eletrónica.