Constância, Santarém

Procissões e Romarias

Trata-se de uma festividade cíclica que ocorre, em Constância, todos os anos na segunda-feira da Páscoa. É uma manifestação religiosa, bicentenária, ligada à tradição marítima da vila e à consequente devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem que ao longo dos tempos se foi adaptando às mudanças do mundo e da vida, transportando consigo a essência de Constância e o espírito deste lugar de encontro do Zêzere com o Tejo.
Consiste na procissão em honra da Senhora da Boa Viagem, protetora dos marítimos, que desce da igreja matriz até aos rios onde a esperam, na atualidade, largas dezenas de embarcações engalanadas para a bênção dos barcos. Para além das embarcações locais e das localidades vizinhas, acorrem a Constância neste dia muitas outras provenientes de todo o vale do Tejo, de Abrantes até ao mar, representando as comunidades ribeirinhas do troço do grande rio em que os barcos de água acima, carregados de mercadorias, navegaram durante séculos. Muitas das tripulações vêm trajadas ao modo tradicional e característico dos seus lugares de origem, o que faz desta manifestação uma grande Festa do Tejo.
A bênção dos barcos ocorre em três locais sucessivos: a primeira no Zêzere e as duas seguintes no Tejo, seguindo a procissão pelas margens e deslocando-se as embarcações pelos rios, num cortejo de grande significado cultural e especial beleza estética. Há ainda uma derradeira bênção – a das viaturas – que acontece na Praça principal da vila antes de a procissão tomar o caminho de regresso à igreja matriz onde a imagem da Senhora da Boa Viagem permanecerá, no seu altar, até à segunda-feira da Páscoa do ano seguinte.
A procissão e a bênção dos barcos e das viaturas em Constância têm características eminentemente populares, resultantes da devoção e do costume que em cada ano se manifestam e se renovam. As pessoas enfeitam os barcos a seu gosto, com flores naturais e enfeites de papel. Em muitas embarcações transportam imagens da sua devoção. Grande parte dos participantes são homens e mulheres, de uma forma ou de outra ligados aos rios, que têm o hábito de vir a Constância em cada Páscoa para se reencontrarem e confraternizarem, transformando a vila, onde se encontram os rios, num lugar de encontro também de pessoas e de afetos.
Vinda, pelo menos, do século XVIII, a procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem e a bênção de barcos transportam em si sinais e memórias do passado fluvial da vila, ao mesmo tempo que se souberam adaptar aos tempos e às novas realidades, sobrevivendo ao desaparecimento das condições em que surgiram e continuando a afirmar no presente as marcas identitárias de Constância, ponto de encontro, que sempre viveu dos rios e cujo futuro passará, em boa parte, por eles.

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