Monchique, Faro
Rituais e Costumes
A “estila” é o processo de destilação da aguardente de medronho que se faz em Monchique há vários séculos, entre janeiro e março, constituindo um momento de convívio e de festa entre vizinhos, familiares e amigos.
Enquanto os medronhos fermentados são lentamente destilados em alambiques de cobre, passa-se o tempo a conviver, conversae, jogar às cartas e acompanhando as provas da aguardente com chouriço, presunto, pão, filhoses ou, mesmo, febras de porco assadas no fogo aberto da caldeira.
O processo da ‘estila’ começa por fazer o lume que irá aquecer a caldeira do alambique, depois, juntam-se os frutos que estiveram cerca de dois meses a fermentar em contentores de madeira. Esta massa de fruta é colocada na caldeira e misturada com água e um pouco de aguardente “frouxa” que sobrou da última fase da estila anterior; encaixa-se, então, a cabeça do alambique e sela-se com o mosto para que fique bem vedada. Quando o líquido ferve, o vapor passa pelo tubo de cobre, que em Monchique tem a particularidade de ser retilíneo, mergulhado em água fria, arrefecendo o líquido translúcido que começa a verter para um cântaro de barro.
As primeiras gotas, “a cabeçada”, não se aproveitam, e só quando o líquido corre em fio contínuo se sabe que a aguardente “está afiada”; coloca-se um novo pote e começa a provar-se, geralmente, num mesmo pequeno cálice, o “mosquito” partilhado por todos os presentes.
Durante as duas horas seguintes, é necessário estar atento ao fogo e tenta-se apurar o teor alcoólico da bebida, o que hoje se faz com termómetros mas, antigamente, “dava-se fogo” a algumas gotas que se colocavam no dedo e, dependendo do tom azulado do fogo, determinava-se a graduação e a qualidade do medronho.
Durante a estila o consumo desta aguardente que ronda entre os 40 e 50% de graduação, tem de ser moderado, pois o produtor tem de estar concentrado para não “esborrachar”, o que acontece quando o fogo está muito alto e o alambique “cospe” o líquido em ebulição, estragando a aguardente.
No local da estila, geralmente pouco iluminado e onde se sente intensamente o cheiro do medronho e do fogo, aquece-se o corpo com a aguardente, soltam-se as línguas, fazem-se despiques e, diz-se até, que muitas quadras populares aí terão sido transmitidas ou inventadas, como aquela que corre na tradição oral de Monchique: “Por dentro é para espairecer/Por fora é para curar/De Inverno é para aquecer/No Verão para refrescar”.
Muitos afirmam em Monchique que «antigamente a estila era uma coisa para homens», mas há quem refira que as mulheres também participavam, quando queriam. A estila termina com a “diáfa”, como ainda alguns designam a grande festa que finaliza todo o processo em que se organizavam bailes ao som da harmónica.
A aguardente de medronho faz parte da cultura da Serra de Monchique, onde é comum oferecer um cálice aos visitantes, tem reflexos na linguagem e influência na arquitetura rural, onde se vislumbram as pequenas casas sem janelas, onde decorrem as estilas.