Valongo, Porto

Rituais e Costumes

Anualmente, durante todo o dia de S. João, a vila de Sobrado, em Valongo, revive intensa e apaixonadamente uma invulgar e autêntica tradição. É a Bugiada e Mouriscada mundialmente singular, de dimensão e complexidade extraordinárias e de relevante valor cultural identitário.
Alicerça-se, esta manifestação, numa lenda, a qual nos remete para os tempos da ocupação da península pelos mouros. Na sua recriação disputa-se, entre danças e rituais, transmitidos de geração em geração, uma imagem milagrosa de S. João Batista. Nas várias encenações entusiastas e contendedoras, encontram-se, por um lado, os Bugios (cristãos) e, por outro, os Mourisqueiros (mouriscos) que, vestidos a rigor, de forma exuberante, conferem, à festividade, colorido e dramatismo, expectativa e alegria.
Os Mourisqueiros, cerca de pouco mais de duas dezenas de pares de jovens solteiros, garbosos e alinhados, cuidadosamente fardados, são comandados pelo Reimoeiro. Os Bugios, mais divertidos, são às centenas, exuberantemente trajados, de chapéu extravagante com penacho, onde o colorido não falta. São chefiados pelo Velho e escondem-se atrás da máscara. Vão confrontar os Mourisqueiros que se querem apoderar da imagem de S. João, a qual lhes havia sido cedida pelos cristãos, conforme diz a lenda, para a cura da filha do Reimoeiro.
Apesar de todo o ambiente festivo, as hostilidades, entre os dois grupos, iniciam-se ainda de manhã, durante o decorrer de um banquete oferecido pelos Mourisqueiros. O mesmo é realizado em salas separadas. Os Mourisqueiros não querem misturas e desafiam os Bugios com presentes provocatórios.
Enquanto decorre a missa em honra do santo, os Mouriqueiros, apresentam-se na igreja, apossando-se da imagem. Participam na procissão e carregam os andores, incluindo o de S. João.
Depois é a vez das Danças de Entrada ao som da marcha de S. João. Mourisqueiros sempre em primeiro lugar, seguindo-se os Bugios.
Já no decorrer da tarde surgem outras apresentações. São quadros burlescos e satíricos compostos pela Cobrança de D’reitos (impostos), Trabalhos Agrícolas inversamente realizados e a Sapateirada, ou Dança do Cego como também é conhecida.
Os Mourisqueiros, após um descanso, regressam à festa numa altura em que o dia já vai longo e cansativo. O pároco oferece bebida e os saborosos doces brancos de Sobrado. Executam a Dança do Doce ao som do toque de caixa. Os Bugios também regressam e retemperam forças com o mesmo doce e dançam ao som de violinos, rabecas e violas braguesas que ronronam uma moda antiga e repetitiva.
Revigoradas, as duas formações, preparam-se para a disputa, para o embate. Quem vence são os Mourisqueiros. O Reimoeiro apodera-se do castelo Bugio. Faz prisioneiro o Velho. No entanto, algo de miraculoso está para acontecer… Uma enorme Serpe irrompe repentinamente sobre os Mourisqueiros. Estes assustam-se! O Velho é libertado! E tudo fica em paz, em harmonia, em tranquilidade.
A comunidade como sempre cumpriu o costume, cumpriu a tradição. Até ao ano seguinte!

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