Serpa, Beja

Músicas e Danças

CANTE ALENTEJANO
O Cante Alentejano está inscrito na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO desde o dia 27 de novembro de 2014.

Identificação e definição:
“O Cante Alentejano é um género de canto polifónico tradicional em duas partes, não acompanhado por instrumentos. Reflete a incorporação de um vasto repertório de poesia tradicional (modas) em melodias existentes ou recém-criadas (estilos). (…) Compostas por até 30 membros, as vozes de cada grupo coral estão organizadas em três faixas: ponto, alto e baixos (coro). O ponto, na faixa inferior, começa o canto, seguido do alto, uma voz na faixa mais elevada que duplica a melodia uma terceira ou uma décima acima do ponto, muitas vezes ornamentando-a. A seguir ao alto vem uma parte a solo ou, entrando a partir do ponto, o grupo coral completo canta os restantes versos da moda em terceiras paralelas. O alto é a voz guia que se sobrepõe ao grupo. Os cantadores mantêm-se numa grande proximidade física e envolvem-se profundamente numa unidade de vozes emocionalmente intensa. O Cante carateriza-se pelas suas melodias, letras e estilo vocal. A documentação existente, que remonta a mais de 100 anos, atesta a estabilidade das suas caraterísticas melódicas. Ao mesmo tempo, criaram-se novas letras e melodias que refletem as mudanças do contexto cultural e social, mantendo os temas tradicionais referentes à vida no mundo rural, a natureza, ao amor, à maternidade e à religião. O vocabulário regional e a pronúncia local também são ingredientes essenciais para a interpretação do cante. Esta manifestação é reconhecida dentro e fora da região como o principal indicador da identidade do Alentejo.”

Portadores e praticantes:
“Os portadores do cante são os homens e mulheres da região sul e central do Alentejo que o transmitem às crianças e jovens no contexto familiar, bem como nas escolas e nas associações culturais locais. O Cante é praticado principalmente por grupos corais (…) que desempenham um papel central na transmissão desta prática expressiva às novas gerações, bem como na sua divulgação em toda a região, no país e no estrangeiro. (…) Os municípios locais, em colaboração com as escolas do ensino básico e as associações culturais, (…) ajudam vários mestres a ensinar e divulgar o cante entre as crianças e jovens de toda a região.”

Significados sociais e funções para a comunidade:
“O Cante é um aspeto fundamental da vida social nas comunidades alentejanas. (…) Para os seus praticantes e aficionados, o cante encarna um intenso sentimento de identidade e pertença à sua região de origem (…) é um importante veículo para reforçar o diálogo entre as diferentes gerações e géneros (…) contribuindo para a coesão social e para o desenvolvimento regional e local. O Cante trouxe muitas mulheres para o espaço público (…). Fora do Alentejo, o cante é um dos principais modos de expressão que ajudam a manter uma forte ligação entre os migrantes e a sua região de origem (…). Em suma, o cante habilita os homens e as mulheres a consolidar as suas comunidades, expressar as suas emoções e resistir ao isolamento e ao esquecimento quando se trata dos portadores das tradições mais velhos.”

(in “A Tradição” (nova série) — Dossier UNESCO do Cante Alentejano)

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