Santana, Madeira
Rituais e Costumes
As casas típicas de Santana são consideradas a maior imagem de marca da Madeira, sendo divulgadas em inúmeros cartazes turísticos promocionais em todo o Mundo. Estas casas, que são provavelmente vestígios das construções primitivas, foram as habitações usuais atendendo a que os materiais utilizados para a sua construção eram abundantes, de fácil aquisição e pouco dispendiosos, como madeiras, colmo (palha de trigo e ou centeio), varas de folhado ou de urze e vimes.
A utilização destes materiais, nomeadamente a madeira, deve-se à sua abundância. O cultivo de cereais, como o trigo e o centeio, para além de proporcionar sustento à população, através da produção de farinha, permitia o aproveitamento da palha (colmo) para a cobertura das habitações, geralmente de pessoas humildes, que não tinham possibilidade de adquirir materiais mais nobres. Apesar da simplicidade dos materiais, o método construtivo singular, que segue determinados procedimentos específicos, constitui um ritual que exige o domínio das técnicas, desde a preparação dos materiais até à conclusão da colmatação.
Com o passar dos tempos, a construção de raiz destas habituações tem caído em desuso, muito devido aos materiais utilizados que são perecíveis, exigindo uma manutenção regular, que poderá ser de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos, dependendo da qualidade do colmo, das temperaturas e da precipitação que se fizerem sentir.
O colmo, ou o restolho, é o elemento de destaque. Para o que se considera uma boa colmatação, devem ser seleccionadas variedades de trigo que possuam características específicas para a planta, de modo a obter caules de porte alto, linear e robusto, e que sejam resistentes à “acama”.
Os vimes são utilizados para os “pontos” e necessitam de um processo de tratamento específico para que fiquem com a maleabilidade suficiente para a amarração. São utilizados vimes com cerca de 2m de altura, com cerca de 2cm de diâmetro, que deverão ser colocados a secar, passando pelo fumeiro, depois serão colocados de molho, em água, durante sensivelmente catorze dias. Sendo um material maleável e de grande flexibilidade, têm um papel crucial na construção das casas, pois servem para amarrar as varas, que comprimem o colmo à estrutura de base, as ripas.
As varas, uniformes e resistentes, são utilizadas na horizontal entre as várias camadas do colmo, para compactar a cobertura à armação.
Inicialmente a madeira era utilizada para toda a estrutura da casa de colmo, desde a armação ao frontal. Gradualmente, os frontais começaram a ser construídos com materiais mais resistentes, mantendo-se a madeira para a armação.
A forma tradicional de cobertura das casas consiste em colocar o colmo na vertical começando de baixo para cima, dispondo os maranhos juntos, sobrepondo-os de modo a garantir o isolamento.
Sobre os feixes são colocadas as varas na horizontal, que são amarradas com os vimes, comprimindo a palha para que não se solte. Esta primeira camada tem sensivelmente 15 cm de espessura e pode ser feita com palha de centeio, por ter um aspecto mais regular, e é denominada de “camisa”.
No final da cobertura, na cumeeira, são feitos os “bonecos”. Estes “bonecos” têm como função proteger os últimos “pontos” que foram feitos com os vimes, para que estes não se degradem facilmente.
Concluído o processo de cobertura, é necessário aparar a palha, para que fique com um aspeto mais homogéneo.
Estas técnicas de cobertura são delicadas e exigem a maestria e a prática de homens experientes, com o saber fazer necessário à boa apresentação e funcionalidade das nossas típicas casas de Santana.