Vila Nova de Foz Côa, Guarda
Festas e Feiras
FOZ CÔA: CORAÇÃO DE AMENDÔA – Uma festa imperdível! Uma atitude a manter!
Hoje em dia é comum dizer-se que é no Douro que tudo acontece. Mas é em Foz Côa, concelho de referência, sinalizado no mapa da interioridade deste Douro Superior, que surgem evidências incomensuráveis, capazes de deslumbrar, desnortear e de surpreender quem nos visita.
Estamos definitivamente no ponto de partida do reino maravilhoso do poeta e ensaísta Miguel Torga. Vila Nova, a nossa “aldeia nova”, a foz do imperdível rio Côa, o lugar onde as ribeiras e os riachos contagiam com os seus aromas e os seus sabores. O Douro, este Doiro sublimado pelo mesmo Torga, este excesso de natureza, que se apaixona pelo Côa, que se entrelaça com a deslumbrante paisagem ao longo dos 398,15 km².
Este certame é uma narrativa de 4 décadas. Um investimento na vontade da gente durienses, na conjugação de diversas sinergias, na aposta do trabalho do associativismo e no reconhecimento de sobrevivência das freguesias despovoadas. As gravuras do Vale do Côa e o Alto Douro Vinhateiro estão no ADN dos fozcoenses, e são, neste território português caso único, constituindo-se ambos como Patrimónios da Humanidade. Este concelho de referência tem vindo a ganhar sucessivamente escala económica, turística e cultural (ser a capital cultural do interior já não é uma utopia ou um horizonte longínquo), e as festividades da amendoeira em flor, ano após ano, evoluem em dimensão e em sentimento de pertença.
O investimento sustentável e o desenvolvimento turístico são cada vez mais cúmplices. Tornou-se e torna-se assim, um imperativo para todos aqueles que prepararam e preparam estas festividades, fazer adequar estes pressupostos. No presente é importante perceber o passado, sentir o futuro e perante estas duas formas antípodas, aplicar tiques de modernidade no campo da inovação e da criação. Esta contínua batalha em manter o espírito e a fórmula durante quase 40 anos, não é fácil, mas se fosse fácil não era certamente para nós.
A reconhecida liderança territorial desta festa, só é possível porque os homens e as mulheres desta região são resilientes e determinados, porque se insiste e porque se resiste. Porque se resiste, temporalmente, aos opinion makers novelistas, porque se resiste com negação (regulamentos elaborados de uma forma cuidada, criteriosa e exigente) às modernidades carnavalescas, e porque se insiste dizendo sim à ancestralidade. O elemento ordinário de todos os momentos representativos desta festa comemorativa da chegada da primeira estação do ano é o Desfile Etnográfico.
A pérola do certame (este mesmo Desfile Etnográfico) é o culminar de um cruzamento perfeito entre emoções e sensações únicas – trilhos da memória das nossas gentes – e a força das formas inspiradas da natureza, da história e da arte. Rola nas pedras da calçada o caráter agregador, o envolvimento descomprometido de toda a comunidade, respira-se tradição, divulga-se a diáspora fozcoense.
As dinâmicas (i.e., as atividades) apresentadas em cartaz, naturalmente são transversais ao tempo cronológico e ao espaço vivencial concreto. Musicalidades fortes, diferenciadoras, experiencialismos ao ar livre, passeios na natureza, na arte e na gastronomia. Falamos dos momentos cinegéticos, dos desportivos, da natureza, do patrimonial e do histórico. Falamos das feiras e dos mercados, dos jogos tradicionais e das “sympaticas” fusões entre a infância e os atos de cozer um pão em fornos comunitários. Todos dão o seu imenso contributo diferenciador na receção da primavera, da luz mediterrânica do calor humano que transborda da nossa gente. Há uma cumplicidade intergeracional na partilha de saberes entre seniores e uma juventude resiliente com maturidade empreendedora. Uma partilha que ganha força, estatuto e pra atividade e defensora de causas próprias.
A boa mesa gastronómica fozcoense não contempla uma especificidade definida, reconhecemos que ter uma ementa ou um prato típico(a) é um privilégio ou uma vantagem para alguns, mas facilmente constatamos que não sendo uma fatalidade é sobretudo a nossa alquimia. Os nossos agricultores carregam nesta região demarcada mais antiga do mundo, a utopia da esperança. A esperança depositada num bom azeite virgem com um reduzido grau de acidez, num vinho tratado (vulgo generoso) conhecido mundialmente, num vinho tinto ou branco DOC da região demarcada do Douro Superior de excelência e numa amêndoa soberba (as razões da qualidade do grão são essencialmente edafo-climáticas) que adere a casamento perfeito com o figo escaldado. São os verdadeiros embaixadores certificados presentes neste evento festivo. As peças de caça (como a lebre, coelho-bravo, perdiz e o javali), os enchidos, os espargos, as acelgas, o peixe do rio, as migas de peixe, o mel, o queijo e as laranjas, são os anfitriões que acompanham estes embaixadores. Também eles, atores principais neste filme de 39 episódios desta longa-metragem. A “amêndoa” está presente no “empratamento final”.
Sensibilizados, a restauração e não só, reconhecem e apostam no produto amêndoa e seus derivados, sejam eles menus degustativos, com sobremesas, bebidas espirituosas, produtos de beleza, etc. Existe em todos os intervenientes a noção que existem saberes/experiências transmitidas de geração que devem são valorizados e preservados.
Há uma opção, o salto para a internacionalização. Balizar forças, reinterpretar a cultura e o património, utilizar criativas roupagens e ensinamentos, ornamentar uma linguagem com um dialeto isoglosso e inserir uma nova programação. Vamos continuar a folhear a 40º página e seguintes, vamos desfrutar desta boa leitura – motivados e, sobretudo, com orgulho! Este é o desafio, esta é disposição!