Madalena do Pico, Açores

Festas e Feiras

Secular, o culto ao Divino Espírito Santo é uma das tradições picarotas como maior expressividade na ilha, revestindo-se de profundo significado para as nossas gentes, que desde o povoamento celebram esta festividade, honrando as promessas e votos feitos há largas centenas de anos.

Conhecidas na Ilha Montanha como Festas do Senhor Espírito Santo, estas realizam-se anualmente entre o fim-de-semana de Pentecostes (ou seja sete semanas após a Páscoa) e a Trindade, em cada um dos 45 Impérios do Pico (pequenos edifícios com uma arquitetura distinta), não deixando ninguém indiferente. Com uma forte componente litúrgica, onde sobressaem as celebrações da Eucaristia e a organização de procissões, destaca-se a distribuição de rosquilhas ou pães, pelos milhares de transeuntes que visitam os Impérios, bem como a realização de grandiosos almoços oferecidos às centenas de convidados, que em fraterno convívio saboreiam as típicas Sopas do Senhor Espírito Santo.

Mantendo-se praticamente inalterada desde os seus primórdios, esta festividade contempla ainda rituais muito peculiares. Cada festa é realizada por uma Irmandade, que escolhe um irmão responsável pela celebração, o mordomo. Na eventualidade, de não haver disponibilidade de nenhum dos irmãos, é a própria Irmandade, que levanta o Império, ou seja que assume a organização da festa. Esta é, incontornavelmente, uma manifestação ímpar da fé do povo da Ilha Montanha.

Nas horas mais amargas da vida é ao Senhor Espírito Santo, que o bravo Homem do Pico entrega as suas lágrimas de dor, que se transformam em prece. Transcendendo a mera vertente religiosa, este culto assume-se como parte integrante da vivência social dos picarotos, marcando igualmente a sua cultura, nos mais diversos domínios: Na palavra escrita, sob os vários géneros literários desde a poesia à prosa; na arquitetura dos vários impérios e altares existentes em toda a ilha; no trabalhar a pedra basáltica ou a tradicional calçada com motivos do Espírito Santo; na música, litúrgica e popular, coral e instrumental, principalmente dos foliões e filarmónicas; nas rendas e bordados, especialmente os estandartes e bandeiras lavrados por delicadas mãos; na pintura e na azulejaria; na toponímia das nossas freguesias e vilas; até mesmo na ourivesaria própria das coroas do Espírito Santo, entre outros imensos aspetos que marcam a cultura deste povo ilhéu.

Encerrando em si mesma, o verdadeiro espírito de interajuda do Picaroto, esta vestuta tradição marca a vivência social deste povo, que em comunidade e de forma completamente gratuita, entre familiares, amigos e “irmãos”, prepara toda a festividade, desde o cozer da massa sovada em fornos de lenha à sua distribuição, passando pela doação dos alimentos e confeção das Sopas. Sendo o mais genuíno ícone do nosso Povo, as Festas do Espírito representam a nossa mais intrínseca identidade, na alegria da partilha, no fraterno convívio, na verdadeira caridade. Estas são as festas da gratuitidade.

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