Aveiro, Aveiro
Festas e Feiras
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As intemporais festas anuais em honra de São Gonçalinho ocorrem por altura da data da morte de São Gonçalo (10 de Janeiro) e duram 5 dias no bairro da Beira Mar, em Aveiro. A festa é caracterizada pelo louvor a S. Gonçalo, manifestado pelo “pagamento” de promessas pelos seus devotos, através do lançamento de cavacas a partir da platibanda que circunda o topo da capela com o mesmo nome, enquanto é tocado o sino, para a multidão em baixo. Esta, utiliza os mais variados utensílios para apanhar os doces (guarda-chuvas virados ao contrário, camaroeiros (ou nassas) ou simplesmente com as mãos), que depois os comem ou levam para casa. São mais de 12 toneladas de cavacas que são lançados durante os dias dos festejos. A prática de lançar cavacas é uma característica desta peculiar festa, transformando-a numa original manifestação de tributo, culto e veneração prestada ao Santo pelos romeiros. O ponto alto desta veneração é a procissão seguida da celebração eucarística de domingo.
O afeto das gentes do bairro da Beira Mar e muitos aveirenses ao seu Santo padroeiro é de tal forma que o tratam carinhosamente por “o nosso menino”. Muitas facetas lhe são atribuídas para além de casamenteiro: folgazão, rapioqueiro, brincalhão, medidor de conflitos, curador de males dos ossos, dançarino, hábil a tirar os encravanços de peitos sofridos, eficaz na eliminação das verrugas das almas encarquilhadas de dor, ou das maleitas dos corpos enfermos. Também é tido como vingativo quando uma promessa não é cumprida ou perante faltas de respeito. E, acredite-se ou não, existem muitos testemunhos vivos de situações onde o seu bom nome não foi devidamente acautelado.
Para alem do lançamento das cavacas, outro ritual desta festa, realizado no interior da capela, relaciona-se com a “entrega do ramo” aos mordomos encarregues da festa dos dois anos seguinte. Trata-se de um ramo de flores artificiais, conservado há muitos anos, tendo, por isso, um alto valor simbólico. De uma forma paralela tem ocorrido a “Dança dos Mancos”, ritual realizado à porta fechada também dentro da capela. Esta dança é executada por um grupo de homens que, fingindo-se de mancos e deficientes físicos, se movem, circularmente, mancando e dançando ao som de cantares populares entoados pelos próprios.
As festas são organizadas pela Mordomia de São Gonçalinho, composta por 21 mordomos que receberam testemunho da mordomia anterior e são nomeados pelo pároco da Vera Cruz. Os mordomos de São Gonçalinho são os herdeiros de heranças antigas que de século em século, de avós para pais, de pais para filhos, de filhos para netos, de mordomos para mordomos, conservam intacta não só a tradição mas, sobretudo, o traço de um povo que no início de cada ano acorda os sinos para celebrar quem é. São facilmente reconhecidos pela utilização do gabão de Aveiro: longo, de cor castanha.
Em abril de 2019 foi submetido o processo de candidatura a património cultural imaterial no IPPC, estando para breve a sua aceitação.