Calheta, Açores
Rituais e Costumes
As festas em honra do Divino Espírito Santo foram introduzidas pelas mãos dos nossos primeiros povoadores e os Franciscanos fizeram a sua propagação como veículo de introdução das doutrinas Joaquimitas, de Joaquim das Flores que, com a sua crença e religiosidade as recrearam e fizeram desenvolver-se em todas as ilhas.
O povo sempre recorreu ao “Paráclito”, fazendo as suas promessas em situações de catástrofes, doenças e outras dificuldades que a vida lhe oferecia e não compreendendo os fenómenos naturais, era o ao Espírito Santo que o povo ilhéu, em fervorosa prece, recorria para aclamar tamanhos castigos. Se as nossas ilhas não tivessem sido bafejadas pelo culto do Espírito Santo, a cultura do nosso povo jorgense, seria muito diferente e muito menos rica do que é hoje.
As festas em devoção do Divino Espírito Santo dividem-se em duas partes. De um lado a parte religiosa que se carateriza pelo rezar ou cantar dos terços, pela bênção e distribuição das esmolas aos necessitados, pela missa e a coroação. Do outro lado a parte profana, à qual se associam as sopas e arraiais e os seus festejos integrados como as festas dos tremoços, do vinho, os foliões, os bandos, as filarmónicas e o bodo-de-leite. As festas do Divino Espírito Santo iniciam-se após a Páscoa e prolongam-se até ao oitavo domingo seguinte, o da Trindade.
Há vários tipos de celebrações nas festas do Divino Espírito Santo, os jantares e os gastos e as festas. Os primeiros vão do Domingo de Páscoa ao da Trindade e os gastos são o Domingo do Espírito Santo e o Domingo da Trindade. As festas acompanham os gastos.
Em cada celebração, há um grupo de pessoas ou pessoa, os mordomos ou mordomo, que faz uma promessa por si ou pelos seus ficando encarregue de dar a festa. Grande parte destas festas exige uma grande preparação, normalmente de meses. Em várias situações são oferecidos animais ou outros produtos, de forma a ajudar e a aliviar os encargos económicos das pessoas responsáveis pelo festejo.
Apesar de durante a semana acontecer vários preparativos, é no domingo o ponto alto do culto. Ainda de madrugada começa-se a preparação de um grande dia. Juntam-se os convidados e familiares que desempenharão funções específicas e organiza-se o cortejo que segue até ao império de forma a recolher as coroas e as diferentes insígnias. Os mordomos (população em geral e convidados), acompanham o cortejo e encerra a filarmónica que neste percurso executa uma marcha grave. Celebra-se a missa solene e no fim, procede-se à coroação. Segue-se o percurso da Igreja para o Império com paragem na mesa das esmolas, onde o padre procede à bênção das mesmas para que os mordomos repartam pelas pessoas mais carenciadas.
O cortejo volta a formar-se e à frente do império e as coroas recebem o banho de flores levadas em cestinhos no cortejo por grupos de meninas vestidas de branco. As insígnias voltam a ser colocadas no império e volta a formar-se o cortejo até às instalações da Irmandade, ao som de uma marcha executada pela filarmónica.
É na Irmandade que se reúnem os convidados, irmãos e população geral para degustarem as Sopas do Espírito Santo, a carne, o arroz doce e as massas. Os foguetes também animam os festejos, de acordo com as suas regras próprias e simbologia.
Por várias vezes, a Igreja quis terminar com estas festas, não tendo conseguido tal intento uma vez que, como é natural, o povo não acatou tais ordens, por serem estes festejos o número único e principal da tradição açoriana.