Vidigueira, Beja

Rituais e Costumes

A tecnologia e o método de produção do vinho de talha e o seu milenar processo de vinificação representam uma herança cultural de enorme singularidade, que está presente em muitas comunidades vinhateiras do Alentejo, para a qual contribuíram sucessivas gerações de atores e intérpretes que souberam garantir a sua preservação e continuidade, o que permitiu assegurar a sua atual integridade cultural e tecnológica. Contudo, tratando-se de um processo que se manteve como uma herança familiar e de caráter particular, a compreensão da escala produtiva no concelho da Vidigueira em particular e no Alentejo em geral, não foi ao longo dos tempos contabilizada, não permitindo ter uma noção precisa do volume de produção anual em cada uma das comunidades vinhateiras.

A importância do Vinho de Talha na Vidigueira assume uma preponderância especial, em virtude de se ter verificado continuidade produtiva do vinho de talha desde a época romana. As condições edafo-climáticas próprias dos territórios da Vidigueira, combinadas com os elementos culturais e tecnológicos que lhe estão associados, fazem deste legado uma singular simbiose entre terroir, condições climáticas, diversidade de castas e património enológico, que lhe conferem um valor universal excecional.

O processo de vinificação manteve-se inalterado desde a antiguidade, o que permitiu garantir a preservação de arquiteturas, recipientes, saberes e processos culturais que fazem da tecnologia e método de vinificação do vinho de talha, uma íntima e estreita conjugação da civilização do vinho com a civilização do barro. Durante a fermentação, o saber do adegueiro será determinante nos cuidados a ter com cada um dos vinhos em cada uma das talhas, pois os processos de fermentação têm caraterísticas e comportamentos singulares e diferenciados, dependendo das combinações e quantidades das castas presentes, da forma, volume e capacidade do recipiente, da temperatura ambiente da adega entre outras e imprevisíveis fatores que determinam o resultado do processo de vinificação, fazendo dele uma surpresa permanente de grande beleza, singularidade e autenticidade.

Com os vinhos prontos, é a 11 de novembro que, todos os anos se repete a tradição, começam as provas, as trocas e partilhas dos vinhos. Cada produtor dá a conhecer o seu vinho aos amigos e acompanhado dos petiscos tradicionais, num ambiente simples, entre talhas, alguidares, jarros e copos, provam-se os vinhos, comentam-se e trocam-se saberes e emoções. O vinho de talha e o cante, o cante e o vinho de talha, velhos e inseparáveis amigos como se procurassem ambos através do esforço dos homens e mulheres, resgatar a seiva e a espuma das uvas e depois dessa delicada tarefa libertassem sons ritmados, graves e sonoros, tornando o orgânico verdadeiramente inseparável do intangível.

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